sábado, 9 de novembro de 2013

Cantiga temporal

Somente vindo e vendo
Sabia que semente vinha
Desabrochar

Somente vindo e vencendo
Sabia que assim seria
Recomeçar

Vindouro tempo se vinga
Nas marchinhas ilusórias do indicativo
Com as trôpegas vozes do passado Emenda numa cantiga com o porvir

O tempo se faz 
Bem em tempo de se desfazer
Pois o sol que ora é poente 
N'outro hemisfério há de renascer

Bem-dito que seja o breve estar
Enquanto breve parecer
Para que por mais tempo dure
O mais profundo enaltecer


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Ode ao elo à ela

Viva à morte do que tange a dor lacerante
O expurgo tântrico-fulminante
Exegese da profecia do canto
Heresia em sumo santíssimo pranto

Quando no verso mais vibrante
Faz-se luz aquele terror
Faz-se tu apenas amor
O que eras tu, apenas dor

Quando embebe-se de carne
Toma forma e aviva-se dest'arte
Todo o ser que era apenas martírio
Tens-se até uns ante o próprio desatino
Fez-se novo em vigor!

Viva ao que nos enaltece de alvura
Que nos banha de candura
Sempre que em seus lábios degustamos o sabor
Sempre que enlevados vamos
Pela suave ou pela mais densa atmosfera
Desta aventura feérica!

Que em seus braços sempre possamos nos atirar
Que em ti reine todos os nossos prantos
Vivas, odes de amor ao luar
Que faça-se sempre em nós vívida
Teus instrumentos da grã-doce lascívia
Sempre tenra e bem-quista
Ela, sempre pelo elo, a poesia!

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Não espere de mim a palavra última.
Não espere que eu role por vontade própria até o abismo.
Meus dedos não foram feitos para apagar a luz,
nem meus pés para conhecerem o chão,
nem meus pulsos para serem cortados.

Posso lhe mostrar milhões de rostos que não serão meus
e eu me perderei em cada um deles sem saber
e não poderei me reconhecer, e nem te ver através da névoa da minha confusão
porque a dor agride minha alma de milhares de modos
porque os fragmentos todos se perderam num único medo de prosseguir.

E quando eu não tinha rastros,
e quando eu não tinha forma,
e quando eu não tinha palavras... era só seu desejo,
era só um sonho suspenso, errando em cumprir-se,
era só um destino inebriado de estrelas,
pronto para a expansão.

Não leve de mim seus passos até o poente
não carregue teus olhos abrigo antes que possamos nos salvar.
Antes que a carne se profane a qualquer preço,
não leve de mim teu abraço de paraíso...

Porque teu corpo todo é feito de sol,
porque sem ti não há nada para germinar,
porque etérea é a brisa que exala de teus sentidos
porque as trevas retornam quando o mundo está distante de ti.

Feche a porta e comungue com o infinito
e seja uma incerteza a realizar-se em um beijo,
a realidade a despertar após o pesadelo.

Aprenderemos a voar depois da queda?
Ou procurarás por si sua própria nuvem evanescente
antes que o tempo e o espaço retornem à vida?

Clarice Shaw

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Whisper of wisdow

Oh dear, where is the root of waste taken?
Since when we just have fallen from heaven?

I am no saint nor big evil 
I knew you were searching for no big deal
Remember there was a girl in a Hospital still
You went in there saying "baby, let us make a deal.."
The girl could just see an 8 years old boy
He couldn't believe in the new hopes, what a joy!

But since them he was so afraid
Should he believes again, would be it some more of the same?

Even sick she was like an angel so far
Should he believe again, should to his dreams just to say good bye
Every day the need was so big
Should he be there always or alredy leave?

Once he told her his very true need
As she couldn't avoid 
His wish was her wish

She thought she should wait her sickness go
But when they were next there was no sickness anymore

A damn hard work just appeared so easy
To reach him, to feel his heart beat!
His universe was her new place to live
Finally the heal was coming, the belief!

Oh, but they were so hurt already
Wounds of lies, of dreams expected 
The hope was increasing for her
As the fear was taking his head

And even love once was there to stay
They both so afraid shout saying
GO AWAY!

Whisper of wise winds...
The world is not trying to beat you 
Your world is possibly tryin to kill you 

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Supernova

Pulso desfigurante de estrela decadente
desgastada atrás dos sete céus.
Estrela partida e agonizante
que quebra todas as asas que queriam voar.
Estrela atemporal
do descompasso descompassando no descompassado.

Se anunciasses  primavera
e não o pós-crepúsculo em que se lanças.
Se te sobrevivessem os caminhos
ou eles próprios se soubessem sem se enganar.

Se da tua velocidade desesperada
não escapasse Júpiter
e não te levasse para longe das outras esferas cantantes.

Dance tua queda com outras músicas
relampejantes,
desprenda-se das vias
lácteas...

Caia dos teus mundos,
estrela suicida,
reinventa nova chuva de ferro e gelo,
outra forma, diferente do carbono,
gerada do teu próprio cerne
para, do outro lado de ti,
poder ressurgir do teu próprio pó.

Clarice Shaw

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

La paz

En el cielo de tus ojos
No se encuentran más
La amistad de nosotros
Con lo que llamo paz

És que la paz hay en mis ojos aún
Mismo que en ti hoy muera
És lo que non cambiará 
Jamás. Mismo que todo se fuera.

Dame la vida siempre, la paz.
Hay que estar siempre viva, además.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Verbalizando-me

O predicativo a que me sujeito
É o que substantiva meu nome
É a desinência do meu verbo
Vogal temática do meu hábito
Em quem sou apenas..
Oração coordenada que se subordina
Por vontade própria, minha!

Ei-lo aqui lhos vejam agora, intrépido
Jaz feroz, com prazer, alterego.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Closest one

Have a nice dream
On your far island
Is it possible indeed
At your dearest command? 

Would it be my dream
Make yours come true
So I wish we meet 
Anytime very soon

Despite physical distance 
you touch me as no one
Despite people around
Still as close as my own bones

Oh, in your arms peace is resting
In your silence rests mine
In my name a violent need
Of your gorgeous and sweetest desires.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Os dois caminhos

O céu e o abismo se olham intimamente
dos dois lados de um mesmo caminho.
O céu e o abismo se olham para meus lados opostos.

Meu pulsar atômico corre através de distâncias astronômicas,
minha efêmera proximidade vilipendia o infinito.

Nada está aqui.
O Nada está aqui.

O céu e o abismo se enxergam
e eu colapso meus estados dentro deles.

Eles me levam para todos os lados...

na velocidade uniforme da luz,
na presença disforme da escuridão.

E caio diante deles
e deixo minhas forças fugirem para um lugar maior.

Clarice Shaw

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Nem guerra nem paz

Una duma anarquista
Ein International menchevique
Se lograram os habsburgos 
À vitória do exército branco
E o mais que ainda existe?

Lenin, Trotski, Mao tsé...
Ganharam tantos por fé
E pela ordem de amontoar
Churchill, Hittler, a legião czar

Ganhamos o terror ideológico
O choque anafilático pós-traumático
Somos os filhos da geração partida
São muitos ocos, sem passado, vida.

Compreendemos o que nos individualiza
Abnegamos ao que socializa
Somos filhos sem pais, país
Somos o furo da história, sem raiz
Nação sem memória, glória, matiz.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Do lado de fora

Do lado de fora
tudo é infinito sem estrelas
e sem morada
porque tudo é um só
e não há mais para onde fugir
e não há mais porque fugir

e não há mais o que se possa ser
ou o que se possa ter.

E eu não tenho nada.

Mentira, eu tenho medo.

Do lado de fora
tudo é vazio e sem estrelas
porque não há mais nada
e as constelações se dissolveram
enquanto você se expandia.

Porque não posso mais partir
nem tocar na face
que me olha do espelho.

Porque não posso mais partir
sem me espelhar
no que está lá fora.

Porque não consigo escapar.
Por que não consigo escapar?

Para que o infinito
se as estrelas se foram?

A morte agoniza
e me beija seus caminhos.

Do lado de fora
é tudo infinito
e tudo é um só
e tudo está sozinho.

Clarice Shaw

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Nau frágil

Você mergulha
abaixo dos limites
da minha superfície
nos meus abismos cerrados
onde não posso te tocar.

Você mergulha
condensando-me em memória,
condenando-me.

Você mergulha
nas profundidades
de dentro e de fora de mim.

E eu, na armadilha do teu oceano
sem querer emergir.


Clarice Shaw

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Oldest young feeling

The youngest love
From two secular souls
Isn't a secular love
From yougest ones?

As we may seem like babies
When frightened we feel
Or two ancient ones
When intending to heal

Everyday you wake up
I'd like you could feel
All the warth of my love
While I'm dreaming still

While going to city
Or staying at home
Here I pray for your mercy
For contacting me more

When you just lay down
I'm havin' dinner yet
How I wish I could listen
Every breath of your rest

Just keep this joy, baby
In your lovely eyes
And strenght of mind
In everyday you stand up
So we will be more safer 
From the world outside!


domingo, 16 de junho de 2013

Entes perdidos em suas projeções de si

Há quem fale só de si
E se importe só consigo
O que pensa é sempre dito
O que enxerga, como lhe é visto

Quer tanto falar de si
Quer tanto que lhe vejam
E que seja como pinta
É o seu grande desejo
Quem sabe abafa as más línguas
A lhe observar os tropeços

Todo essa atenção à elas
Apenas destaca mais
Do que a mais engenhosa de suas pinturas
Toda a fragilidade de uma personalidade
Estúpida.

Dever ser um desastre quando se procura em preces
Como ouvir a si
Se o que importar é o que parece?


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Favos de Mel

Olhinhos doces
de menino triste
como se fosse

o pesar que assiste
da minha alma
que ainda insiste

em ter a calma
que a lembrança inventa
em dar a palma

ao que não se sustenta.
Quis ter a posse
do que em ti me tenta

menino doce
de olhinhos tristes!


Clarice Shaw

quinta-feira, 6 de junho de 2013

The soul of a fighter

All the ways for reaching Iran
Are now blocked like a gate's iron
So is my own, a block of steel
So are my dreams blind like their will

In front of memories which shall survive
I lay myself for keeping me alive

My blood scream as the people 
I taught to dream
And the sweet tears of my parents and  family

In front of the lost identity
I had to rebuild what I've been heard, they call dignity 

My love, we both are tied
By the same mind which can't stand liars
We are the same in our need
We want to survive in a world of hypocrisies

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Sol,
eu sou meia
lua
eclipsada
em outras sombras
ou na sombra de mim mesma
oculta.

Faça-me
inteira
face.
Faça-me...

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Quanticamente

Retoca o brilho da função
que se expande até o infinito
em azul transcendentalmente translúcido
que se normaliza num verde inconstante em teus olhos.
Generalize tua fala de mentira
em ilusões contínuas e indiscretas
como uma partícula livre,
nas condições de contorno da tua boca.

Calo o desejo em um valor
apenas esperado
confinado numa região classicamente proibida
sob a ação do potencial atrativo
de tua voz bem-comportada.

E, no espaço dos momenta,
enquanto disperso em coordenadas,
tua hermética pele hermitiana
reintegra a face imaginária que não te define
por não teres conjugado.

Degeneradas são as formas dos meus estados,
incomutáveis são os nossos operadores.
Estacionariamente fico submetida
a uma descontinuidade derivada da incerteza.

Permaneço no fundo de um poço potencial,
com resultados específicos para energia,
e me disfarço em barreira
sem possibilidades de tunelamento.

Porque tudo em você explode na expectativa,
porque onde nos tocarmos
não haverá mais solução.


Clarice Shaw

domingo, 26 de maio de 2013

Vãos do Ocaso

Tu vens
nuvem
fugidia do dia
no arco da íris
em teus olhos
sobre os meus invernos
de gelo, inverso
ao verso.
Avesso.

Você chove.
Eu reverto e deserto,
deserta.

Você trovão
e tempestades
e raios que me partem
e eu parto
para além.
Você aquém
da primavera
das cores
que não brotam flores
se fores
de ocaso.
Descaso.

Se põe
e se opõe
a mim.

Clarice Shaw

sábado, 25 de maio de 2013

Anos-Luz

teus olhos
meus olhos
mais perto
espectro
eletromagnetizado

teu corpo
momento
instante
aberto
por dentro
inteiro
completeza
sem cessar

o sol
difuso
ardendo
infinitos
tua pele
clara
reflexiva
potencial

longe demais

tua voz
perdida
no tempo
no espaço
vazio
em espera
na noite
silente
deserta
escura...

não se dissipe

não se dissipe


Clarice Shaw

(Re)Partida

Parto em pranto
sem espanto.

Separo, paro,
prossigo: consigo!

Parto: entretanto
sem encanto.

Agonizam-se as vidas
que vão morrendo dentro de mim,
uma a uma.

Estou presente,
sou ausente...
acidente:
sou nenhuma!

Parto entre tantos
desencontros...

Errar novos erros,
descobrir novos desejos,
defender novos defeitos!

Parto em pranto
e portanto

sou pedaço,
sou de aço,
(desata-se o laço -
o que eu faço?).

De mundo em mundo
vou mudando!

Sentido

camisas de vênus
em eunucos barrocos

anéis de saturno
sob os olhos fechados

auroras nascentes
de ocasos sangrentos

distância infinita
de eclipse claro

flores mortas serenas
sobre velhos defuntos

mãos cegas despertas
tocando sussurros

cores frágeis em lua
de sorriso mudo

algodão insone caído
no céu noturno

cantiga de ninar
em quem não anoitece

dorme, menino,
teu carinho é uma prece

a realidade
é um sonho comprido...

a vida inteira
não é mais que um suspiro.


Clarice Shaw

domingo, 19 de maio de 2013

Mecanicidade

Por trás da prisão sem muros dos dias
reflito a fugacidade
sob o céu nublado.

A eternidade é apenas um passo
além de mim.

Sou resultado de tudo o que se foi
e encarcerei a minha alma
em cada um dos meus desejos.

Tudo termina
dentro de um novo início
e o futuro é o passado esquecido
que se repete
sem conhecermos como ocorrido.

Adormeço a mesma noite
que me sorriu todas as mortes.

As luzes se calam dentro das trevas
que me propus.

Só o silêncio me conduzirá de volta.


Clarice Shaw

sábado, 18 de maio de 2013

Perigeu




O crepúsculo é um precipício
em que o sol se lança
e depois do sangue
a lua, em luto
estende sobre o mar seu manto de constelações.

Por trás das palmeiras vai chorar
sua face iluminada
e com seu brilho-encanto
apaga outros que reluzem pelo infinito.

É gigante que clama pelas águas
e as águas todas levantam-se ao seu encontro,
e aqueles que são feitos de oceano,
ao pressentir sua plenitude,
em luar devotos,
entregam-se à loucura.

Clarice Shaw

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Lemingue

Há precipícios
em teus olhos de lemingue.
Não se precipite.

Há precipícios.
Em teus olhos se lê. Mingue.
Não se precipite.

A jornada é cega,
a morte é certa.

A jornada é insana,
teus olhos insones...

Não se precipite
no precipício,
no salto de dentro dos teus olhos,
lemingue. Mingue seu fim.


Clarice Shaw

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A Cura


Caia dentro de mim
e se entorpeça.

Deixe o flagelo de tuas asas
entre o desejo e o prazer
antes que os dois se confundam.

Deixe comigo a sua dor.

Eu sinto os teus sentidos
vagando erroneamente...

Arranque teus olhos
e tua língua.
Arranque tua pele coberta
de outros corpos.

Deixe tudo o que estiver corrompido
entre os meus dedos.

Arranque teu sexo
e teus instintos
e se abisme nos meus abismos.

Deixe teu sangue correr
pela tua alma quebradiça.
Deixe teus limites se despedaçarem
em minhas mãos.


Clarice Shaw

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Que não caia o mastro

Há quantos passos estou de nós?
Por quantas vidas se desfazem os nós?
Se atariam mais num desatino
Desatariam mais neste destino?

A quem os passos eu sempre sigo
Sem saber, cega, eu não desisto?
Será da terra dos arianos,
O mais ferrenho pagão?
Será um doce lobo da estepe
Entre suas vis plantações?
Ou o mais negro dos lobos
Do mais celeste olhar?
Seria alguém ainda por vir
Ou simplesmente ninguém será?

Enquanto convidam à dança
Brincam, serelepes, como crianças
Doces ilusões
Pobres átrios atrofiados
Nunca fazem-se de rogados
Ao menor aluvião

Que venham em polvorosa, malucas
Mas venham sempre desnudas
As mais loucas sensações

Que venham, apesar do compasso
Entre outras harmonias, enlaços
Enquanto possuir o mastro
Serei mais faceira que ti, paixão.

Nirvana


Não corte meu corpo impuro,
não recorte todos os pedaços
que aprenderam a apodrecer em silêncio.

Nada desperta
depois que a alma se corrompe
e se fragmenta em diversos demônios.

Destrua tuas asas e não tenha medo
quando começar a cair.

A terra chorará
seu sangue incessante
onde brotarão
as sujas rosas da salvação.

Clarice Shaw

Solar


Dentro do meu desejo
teu corpo intangível flutua...

Tuas palavras se dispersam em sonho perdido.

Do fogo dos teus olhos
crepitam instabilidades latentes.
E eu, em cinzas
reconstruo nova forma
feita da matéria antiga
que jamais perecerá.

Clarice Shaw

O Anjo e a Trapezista sob o Céu de Berlim


E se não fosse possível voar?

E se eu desafiasse a gravidade
do teu corpo?

E se você caísse
dentro do meu sentimento?

E se você pudesse me tocar?

E se eu passasse a girar
em torno de ti?

E se você me emprestasse
as tuas asas?

E se eu fosse você?
E se você não fosse eu?

E se houvesse um salto
que despertasse o leste
por todos os lados?

E se houvessem dois sóis?

E se as cores surgissem
depois que você me desse a mão?

E se, transpondo o muro,
pudéssemos seguir o tempo?

E se, da eternidade,
encontrássemos espaço para dor?

Clarice Shaw

Olhos Escuros

Abra teus olhos no escuro
e deixe ele te contemplar.
Abra teus olhos escuros,
abra teus olhos de escuridão...

Você não pode se mexer,
você já pode se perder,
você pode parar de respirar,
você pode desistir agora.

Abra teus olhos
porque as sombras te desejam.
Abra teus olhos
e contemple teus medos de perto

... desperta.

Clarice Shaw

terça-feira, 14 de maio de 2013

Para o dia das mães /2013

Ser mãe é gastar energia e tempo fazendo faxina numa casa para em meia hora ver tudo de pernas pro ar novamente (e ainda ter que escutar alguém reclamando do que não fez). Ter amor e paciência para fazer uma refeição e ainda ter seu trabalho substituído por um quitute de uma lanchonete qualquer. É ser força para sustentar os lamentos de todos em casa e guardar para si suas próprias angústias. E ainda assim, se inventar de querer trabalhar fora ou estudar, ainda ter que escutar coisas do tipo: “Você nunca ouviu falar de anticoncepcionais? Ser mãe foi opção sua, se vire”. Ser força de trabalho para sustentar a sociedade é importante, mas quem cuidará das pessoas até a idade de serem “economicamente ativos”?
Que o dia das mães não seja só hoje, mas todo dia, e vamos dar mais valor a quem sempre cuida da gente apesar de estar sociedade que só cultua valores androcêntricos.

Clarice Shaw

Maternidade

Eu precisei colher toda força que eu não tinha para poder te abraçar. E você me aceitou, como se tal força fosse suficiente. Eu te entreguei meu corpo para que você pudesse se nutrir. Eu virei minha alma pelo avesso para poder te acalentar.

Você me deu a mão, como se eu fosse sólida.

Você acompanhou meus passos, como se eu conhecesse o caminho.

Você me sorriu como se o meu coração pudesse acolher tua imensidão...

... e ele transbordou.

Teu pequenino corpo ainda cabe inteiro dentro dos meus braços. As asas do teu destino ainda estão em minhas mãos. Qualquer toque em falso e ela pode se quebrar. Teus olhos são dois sóis ardentes de vida. Neles se sustentam nosso amanhecer. Por eles me concentro no nosso futuro. Por eles me sustento para não cair. O único poder que disponho em abundância para lhe preservar é o Amor. Só ele me guiará até a melhor escolha. Só ele poderá minimizar os danos que meus erros podem lhe causar.

Clarice Shaw
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