segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Não espere de mim a palavra última.
Não espere que eu role por vontade própria até o abismo.
Meus dedos não foram feitos para apagar a luz,
nem meus pés para conhecerem o chão,
nem meus pulsos para serem cortados.

Posso lhe mostrar milhões de rostos que não serão meus
e eu me perderei em cada um deles sem saber
e não poderei me reconhecer, e nem te ver através da névoa da minha confusão
porque a dor agride minha alma de milhares de modos
porque os fragmentos todos se perderam num único medo de prosseguir.

E quando eu não tinha rastros,
e quando eu não tinha forma,
e quando eu não tinha palavras... era só seu desejo,
era só um sonho suspenso, errando em cumprir-se,
era só um destino inebriado de estrelas,
pronto para a expansão.

Não leve de mim seus passos até o poente
não carregue teus olhos abrigo antes que possamos nos salvar.
Antes que a carne se profane a qualquer preço,
não leve de mim teu abraço de paraíso...

Porque teu corpo todo é feito de sol,
porque sem ti não há nada para germinar,
porque etérea é a brisa que exala de teus sentidos
porque as trevas retornam quando o mundo está distante de ti.

Feche a porta e comungue com o infinito
e seja uma incerteza a realizar-se em um beijo,
a realidade a despertar após o pesadelo.

Aprenderemos a voar depois da queda?
Ou procurarás por si sua própria nuvem evanescente
antes que o tempo e o espaço retornem à vida?

Clarice Shaw

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