segunda-feira, 24 de junho de 2019

Idade das Trevas

A noite, à beira do abismo,
me flagra com os olhos abertos.
- Adormeça, é só um sonho
ruim.

A noite à beira do abismo
é igual a todas as noites:
confunde as sombras,
abre sua boca insaciável
e me engole.

Silêncio
- como se não houvesse violência -
o ácido do tempo tudo digere.

Estamos sós e abraçados nesse mesmo luto
- a ignorância vela por nós.

A noite, à beira do abismo,
até não restar nada além de pó
"das estrelas"
(é o que dizem)

como se essas gigantes poéticas
que ardem na solidão das trevas
não morressem após se consumir
inteiramente.

Clarice Shaw
à beira do solstício invernal.

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