domingo, 5 de julho de 2015

Recorrência

Não sei de onde venho,
que idade tenho
só sei da carne morta
a torturar minha sombra
e dos três dedos que me tratam
e sorriem
e não desejam minha partida.

Devoro eras antigas
com as mãos ainda cruas
(as estrelas se desfizeram
na febre manca).

Os pés de plástico afundam na areia clara,
na areia-tempo
e ampulheta
a escoar a superfície inconsistente.

Quem é só deste mundo não pode ver

do quanto sou
enquanto estou
aqui.



Clarice Shaw.

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