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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Sobrevida

Conheço o som dos teus passos
que passam por ruas sombrias,
por casas vazias
por onde não ando.

Conheço a sonolência muda da noite
que se guarda em ti.

Conheço a esperança dessas frases
que se escondem no silêncio,
se principiam e metamorfoses
e morrem na própria incoerência.

Conheço-me
quando te vejo partir.

Eis diante do tempo a minha dor
imensa,
imutável.
Eis a minha dormência, inelutável.

Conheço a tua chegada
quando não tenho mais nada
diante de mim
(e assim recomeço do fim).

Dou-te meus sonhos
profanos, ocultos.

Dou-te as pegadas
deste reconhecido vulto.

Dou-te o sangue
de quem um dia foi forte.

Dou-te as lágrimas
de quem sobreviveu às tuas mortes.


Clarice Shaw.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Nau frágil

Você mergulha
abaixo dos limites
da minha superfície
nos meus abismos cerrados
onde não posso te tocar.

Você mergulha
condensando-me em memória,
condenando-me.

Você mergulha
nas profundidades
de dentro e de fora de mim.

E eu, na armadilha do teu oceano
sem querer emergir.


Clarice Shaw

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Favos de Mel

Olhinhos doces
de menino triste
como se fosse

o pesar que assiste
da minha alma
que ainda insiste

em ter a calma
que a lembrança inventa
em dar a palma

ao que não se sustenta.
Quis ter a posse
do que em ti me tenta

menino doce
de olhinhos tristes!


Clarice Shaw

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Sol,
eu sou meia
lua
eclipsada
em outras sombras
ou na sombra de mim mesma
oculta.

Faça-me
inteira
face.
Faça-me...

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Quanticamente

Retoca o brilho da função
que se expande até o infinito
em azul transcendentalmente translúcido
que se normaliza num verde inconstante em teus olhos.
Generalize tua fala de mentira
em ilusões contínuas e indiscretas
como uma partícula livre,
nas condições de contorno da tua boca.

Calo o desejo em um valor
apenas esperado
confinado numa região classicamente proibida
sob a ação do potencial atrativo
de tua voz bem-comportada.

E, no espaço dos momenta,
enquanto disperso em coordenadas,
tua hermética pele hermitiana
reintegra a face imaginária que não te define
por não teres conjugado.

Degeneradas são as formas dos meus estados,
incomutáveis são os nossos operadores.
Estacionariamente fico submetida
a uma descontinuidade derivada da incerteza.

Permaneço no fundo de um poço potencial,
com resultados específicos para energia,
e me disfarço em barreira
sem possibilidades de tunelamento.

Porque tudo em você explode na expectativa,
porque onde nos tocarmos
não haverá mais solução.


Clarice Shaw

sábado, 25 de maio de 2013

Anos-Luz

teus olhos
meus olhos
mais perto
espectro
eletromagnetizado

teu corpo
momento
instante
aberto
por dentro
inteiro
completeza
sem cessar

o sol
difuso
ardendo
infinitos
tua pele
clara
reflexiva
potencial

longe demais

tua voz
perdida
no tempo
no espaço
vazio
em espera
na noite
silente
deserta
escura...

não se dissipe

não se dissipe


Clarice Shaw

quarta-feira, 15 de maio de 2013

O Anjo e a Trapezista sob o Céu de Berlim


E se não fosse possível voar?

E se eu desafiasse a gravidade
do teu corpo?

E se você caísse
dentro do meu sentimento?

E se você pudesse me tocar?

E se eu passasse a girar
em torno de ti?

E se você me emprestasse
as tuas asas?

E se eu fosse você?
E se você não fosse eu?

E se houvesse um salto
que despertasse o leste
por todos os lados?

E se houvessem dois sóis?

E se as cores surgissem
depois que você me desse a mão?

E se, transpondo o muro,
pudéssemos seguir o tempo?

E se, da eternidade,
encontrássemos espaço para dor?

Clarice Shaw
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