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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Não espere de mim a palavra última.
Não espere que eu role por vontade própria até o abismo.
Meus dedos não foram feitos para apagar a luz,
nem meus pés para conhecerem o chão,
nem meus pulsos para serem cortados.

Posso lhe mostrar milhões de rostos que não serão meus
e eu me perderei em cada um deles sem saber
e não poderei me reconhecer, e nem te ver através da névoa da minha confusão
porque a dor agride minha alma de milhares de modos
porque os fragmentos todos se perderam num único medo de prosseguir.

E quando eu não tinha rastros,
e quando eu não tinha forma,
e quando eu não tinha palavras... era só seu desejo,
era só um sonho suspenso, errando em cumprir-se,
era só um destino inebriado de estrelas,
pronto para a expansão.

Não leve de mim seus passos até o poente
não carregue teus olhos abrigo antes que possamos nos salvar.
Antes que a carne se profane a qualquer preço,
não leve de mim teu abraço de paraíso...

Porque teu corpo todo é feito de sol,
porque sem ti não há nada para germinar,
porque etérea é a brisa que exala de teus sentidos
porque as trevas retornam quando o mundo está distante de ti.

Feche a porta e comungue com o infinito
e seja uma incerteza a realizar-se em um beijo,
a realidade a despertar após o pesadelo.

Aprenderemos a voar depois da queda?
Ou procurarás por si sua própria nuvem evanescente
antes que o tempo e o espaço retornem à vida?

Clarice Shaw

sábado, 18 de maio de 2013

Perigeu




O crepúsculo é um precipício
em que o sol se lança
e depois do sangue
a lua, em luto
estende sobre o mar seu manto de constelações.

Por trás das palmeiras vai chorar
sua face iluminada
e com seu brilho-encanto
apaga outros que reluzem pelo infinito.

É gigante que clama pelas águas
e as águas todas levantam-se ao seu encontro,
e aqueles que são feitos de oceano,
ao pressentir sua plenitude,
em luar devotos,
entregam-se à loucura.

Clarice Shaw

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Nirvana


Não corte meu corpo impuro,
não recorte todos os pedaços
que aprenderam a apodrecer em silêncio.

Nada desperta
depois que a alma se corrompe
e se fragmenta em diversos demônios.

Destrua tuas asas e não tenha medo
quando começar a cair.

A terra chorará
seu sangue incessante
onde brotarão
as sujas rosas da salvação.

Clarice Shaw

O Anjo e a Trapezista sob o Céu de Berlim


E se não fosse possível voar?

E se eu desafiasse a gravidade
do teu corpo?

E se você caísse
dentro do meu sentimento?

E se você pudesse me tocar?

E se eu passasse a girar
em torno de ti?

E se você me emprestasse
as tuas asas?

E se eu fosse você?
E se você não fosse eu?

E se houvesse um salto
que despertasse o leste
por todos os lados?

E se houvessem dois sóis?

E se as cores surgissem
depois que você me desse a mão?

E se, transpondo o muro,
pudéssemos seguir o tempo?

E se, da eternidade,
encontrássemos espaço para dor?

Clarice Shaw
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