I
Meu ser primitivo retorna à noite primeira
artrópode-água, vestido em seu esqueleto
- da imortalidade à carne pulsante -
no silêncio fundo do fosso
à beira da margem reta que não transborda
dentro da noite aquosa
que dissolve tudo.
II
O delírio-lunar, as portas do inferno?
Os medos que me guardam. O instinto não-domesticado.
Bebo seus olhos lunáticos como espelhos,
o luar me uiva,
como as flores do sol, eu já posso passar.
III
Aos pés das torres de tetos opostos
intuo o caminho.
O homem da lua espreita
em máscara selenita.
Insanos sonhos
sanam-se em derramado orvalho
alimentando o sol que está para nascer.
Nenhum tesouro é perdido.
Clarice Shaw.
segunda-feira, 6 de julho de 2015
domingo, 5 de julho de 2015
Recorrência
Não sei de onde venho,
que idade tenho
só sei da carne morta
a torturar minha sombra
e dos três dedos que me tratam
e sorriem
e não desejam minha partida.
Devoro eras antigas
com as mãos ainda cruas
(as estrelas se desfizeram
na febre manca).
Os pés de plástico afundam na areia clara,
na areia-tempo
e ampulheta
a escoar a superfície inconsistente.
Quem é só deste mundo não pode ver
do quanto sou
enquanto estou
aqui.
Clarice Shaw.
que idade tenho
só sei da carne morta
a torturar minha sombra
e dos três dedos que me tratam
e sorriem
e não desejam minha partida.
Devoro eras antigas
com as mãos ainda cruas
(as estrelas se desfizeram
na febre manca).
Os pés de plástico afundam na areia clara,
na areia-tempo
e ampulheta
a escoar a superfície inconsistente.
Quem é só deste mundo não pode ver
do quanto sou
enquanto estou
aqui.
Clarice Shaw.
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